No universo do marketing, muito se fala em reforço de posicionamento de marca, conexão com as necessidades do consumidor e estratégias para o público-alvo. No mercado jurídico, embora ainda em fase de transição e assimilação, tais conceitos têm sido usados para aproximar os clientes da advocacia, buscando fortalecer a confiança entre as partes.
O problema começa quando estratégias de marketing são levadas ao extremo, incluindo a venda de supostas soluções jurídicas com aparência de legalidade para um público que, por muitas vezes, não possui o conhecimento técnico necessário e pode acabar se tornando alvo de oportunistas.
Nos dias atuais, em que a internet está cheia de desinformação e “fórmulas” e “planos práticos” para alcançar o “sonho dos sete dígitos”, gestores e empresas são bombardeados por facilitadores que ostentam viagens luxuosas, carros importados e mansões, prometendo verdadeiros milagres. Nada disso é aleatório; tudo é planejado a partir de técnicas de incentivo e teorias de economia comportamental, que utilizam heurísticas de julgamento.
Em tempos de valorização da falcatrua e aclamação da contravenção, os pseudocoaches e influencers digitais, com seus “contratos de publicidade” para casas de apostas, são cada vez mais perniciosos, com efeitos psicológicos, sociais, cognitivos e emocionais profundos.
Recentemente, noticiou-se que expressiva parcela da população brasileira já gastou aproximadamente R$ 68 bilhões nas plataformas de jogos entre junho de 2023 e junho de 2024, o equivalente a 0,62% do PIB.
No mundo empresarial, pseudoconsultorias oferecem soluções de “caixa rápido”, “caixa fácil” e usam da complexidade do sistema tributário para convencer os empresários de que devem ser “agressivos” e assumirem riscos.
Não parece ser uma boa ideia contratar com o astuto pseudoconsultor pensando ser possível se esconder de sistemas e ferramentas dos fiscos que utilizam algoritmos de inteligência artificial, análise de redes e bases de dados complexas para detectar fraudes e ilegalidades.
Há quem diga que “sempre há uma solução bem conhecida para cada problema humano — clara, plausível e errada”. Questões complexas, deste modo, merecem ser tratadas de acordo com sua complexidade. As eventuais respostas a estas questões devem ser cuidadosas, bem analisadas e, sobretudo, aproximarem o “querer” do “poder”.
Por isso, embora saibamos que o cliente muitas vezes busca um advogado que lhe diga “como fazer o que ele quer“, somos obrigados a ser categóricos e afirmar a inviabilidade total do que é proposto. Recomendamos, portanto, que evitem essas armadilhas criadas pelos “Picaretax”.
No entanto, sabemos que o empresário, movido por incentivos positivos e negativos, avalia as jogadas possíveis e opta sempre pela “aposta” que, aparentemente, irá proporcionar suposto melhor resultado. Mesmo que pense estar tomando uma decisão racional, considerando custos e benefícios, o que ocorre é a montagem de uma verdadeira bomba-relógio, cujas consequências são apenas adiadas.
Ideias mirabolantes como simplesmente deixar de pagar 90% dos impostos do mês, montante este a ser supostamente compensado com “créditos” oriundos de “transferência de saldo credor” de impostos de terceiros, acabam ganhando força. Na realidade, o que o “plano infalível” esconde é a transferência para o futuro da bomba já detonada.
No futuro, o empresário então arrependido, que estará pensando em como poderia ter escapado da falta de ética e responsabilidade dos pseudoconsultores talvez só desejará ter um aparato de viagem no tempo, voltando ao passado para dizer a si mesmo que deveria ter ouvido seu advogado.
Fonte:
DE PAULA SOUZA, P. R. Promessas fáceis, problemas certos. Disponível em: <https://www.linkedin.com/pulse/promessas-f%C3%A1ceis-problemas-certos-pedro-ribeiro-de-paula-souza-ikqjf/>. Acesso em: 4 out. 2024.